Tem urubu em Ipanema – Colabora
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![Foto de Marcus Brandt/DPA Os urubus são da família dos abutres. Eles se alimentam de carniça., mas podem comer também material orgânico e, raras vezes, pequenas aves e roedores. Foto de Marcus Brandt/DPA](https://projetocolabora.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Urubus-3-1024x641.jpg?x14368)
Os mais espirituosos vão dizer que em Ipanema não tem só urubu, tem também bacalhau, pó de arroz e etc. Em menor número, é verdade, mas eles existem. O problema é que os personagens da foto aí de cima não entendem nada de futebol e não são do tipo que frequenta o Maracanã. Não na arquibancada. Eles são reais, conhecidos como urubu-de-cabeça-preta ou Coragyps atratus, nome científico, e há dois meses vêm assustando moradores de um dos bairros mais famosos do Brasil.
Os urubus têm um papel fundamental na natureza e precisam ser preservados. Eles, normalmente, procuram árvores altas e cavernas para se reproduzirem. Sem elas, acabam se alojando nos prédios. Essa tendência de crescimento deve continuar e pode se transformar num caso grave de saúde pública que precisa ser enfrentando. A culpa não é dos urubus.
Tudo teria começado em novembro do ano passado, quando um casal de urubus, não se sabe bem por que, resolveu fazer um ninho e por um ovo no telhado de um prédio da rua Redentor, próximo à Praça Nossa Senhora da Paz. O porteiro, desavisado, foi verificar que movimento estranho era aquele no alto do edifício e quase foi atacado pela zelosa mãe urubu. Aqui cabe um registro, no melhor estilo Wikipédia. Esses animais são da família dos abutres, mas não atacam as pessoas. A mãe estava apenas sendo mãe e o porteiro passa bem. Como todos sabem, os urubus se alimentam de carniça. Mas podem comer também material orgânico e, raras vezes, pequenas aves e roedores.
A notícia sobre o ninho, o filhote e a mãe protetora se espalhou como um voo de águia. Junto com ela vieram alguns tios, avós e primos distantes das aves. Logo as varandas, coberturas, telhados e até piscinas passaram a ser visitadas pela família de urubus. Uns falavam em dois, outros em três e até cinco animais. Ninguém sabia ao certo. Afinal, como se descobriu rapidamente, urubu é tudo igual. A pergunta óbvia passou a ser: o que fazer? Tomar o café da manhã vendo um bicho preto, de mais ou menos 1,3 metro de altura e cara de poucos amigos na janela não é exatamente o sonho do ipanemense. Pior, aos corajosos que tentam espantá-los batendo pé, palmas ou gritando xô, eles respondem com um indiferente ar de paisagem.
![Foto de Morador Tomar o café da manhã vendo um bicho preto, de 1,3 metro de altura e cara de poucos amigos na janela não é exatamente o sonho do ipanemense. Foto de Morador](https://projetocolabora.com.br/wp-content/uploads/2017/01/Urubus-1-768x1024.jpg?x14368)
As sugestões de se usar chumbinho ou cabeça de nêgo para se livrar dos bichos foram rechaçadas de pronto. Uma pesquisa simples no Google revelou que os urubus são aves silvestres e se forem mortas ou maltratadas podem levar o infrator a passar, no mínimo, um ano na cadeia. Nestes tempos de crise penitenciária e mortes violentas, essa, definitivamente, não era uma boa ideia. Uma empresa especializada foi procurada. Trinta anos de experiência e certificação do Ibama. A proposta era capturar os urubus com uma gaiola e uma isca. Um pedaço de bacon funciona muito bem, diziam. Uma vez apanhados eles seriam levados, em segurança, para um lugar 50 km distante do Posto 9. O preço muito salgado e a incerteza sobre o número de animais enterraram a sugestão.
Como ninguém queria correr o risco de ser preso ou gastar uma fortuna com capturas, a solução foi esperar que o filhote crescesse e todos voassem para longe. Os últimos relatos dos porteiros indicam que o pequeno urubu já bateu asas, mas um segundo ninho teria sido visto num prédio vizinho. Parece que a novela está longe de terminar. Procurado pelo #Colabora, o professor Marcos Raposo, do Museu Nacional/UFRJ, doutor em ornitologia, disse que existem muitos e bons estudos sobre os urubus, mas poucos tratam da presença deles nos grandes centros urbanos e da relação dos animais com as pessoas.
– É certo que o urubu-de-cabeça-preta vem se tornando cada vez mais comum e numeroso nas áreas urbanas. E eles já se acostumaram com essa convivência. A razão é o crescimento desordenado das cidades e a disposição inadequada do lixo. A proliferação dos lixões. Inclusive em Ipanema, que é cercada de favelas, onde a coleta está longe do ideal – explica o professor.
Para Marcos Raposo, é importante que as pessoas entendam que os urubus são animais nativos:
– Eles estavam aqui antes dos homens e estão tentando sobreviver. Os urubus têm um papel fundamental na natureza e precisam ser preservados. Eles, normalmente, procuram árvores altas e cavernas para se reproduzirem. Sem elas, acabam se alojando nos prédios. Essa tendência de crescimento deve continuar e pode se transformar num caso grave de saúde pública que precisa ser enfrentando. A culpa não é dos urubus.
Obviamente, o urubu está longe de ser um animal simpático e fofinho, como o urso panda, a foca ou o mico-leão. O próprio Charles Darwin, quando visitou o Estreito de Beagle, no extremo sul da América do Sul, em 1832, encontrou um urubu-de-cabeça-vermelha e comentou: “São aves nojentas, que se divertem na podridão”. Apesar disso, eles são muito úteis, de diversas formas.
Em Lima, no Peru, por exemplo, os igualmente numerosos urubus-de-cabeça-preta deixaram de ser parte do problema e passaram a ser parte da solução. Lá, a prefeitura resolveu colocar um GPS nas patas dos animais para identificar os lixões clandestinos. Alguns chegam a levar câmeras GoPro para registrar os locais onde se alimentam. A campanha, de 2014, recebeu o nome de “Gallinazo Avisa” e incluía um comercial na televisão com o seguinte texto “dito” por um urubu: “Durante gerações, temos defendido o homem desses inimigos, armados com nossos sentidos e um estômago capaz de destruir as mais poderosas bactérias, mas o lixo está nos derrotando, a poluição tomou o ar, infectou a água, adoeceu a terra”. Faz sentido.
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Fonte: Post Completo