menos buzina de trem em Curitiba e fim de gargalo
O traçado completo e definitivo da Novidade Ferroeste, estrada de ferro que vai vincular Maracaju (MS) ao Porto de Paranaguá (PR), ainda não está definido e depende de estudos ambientais e de engenharia que estão em curso. Mas, uma coisa é certa: a novidade ferrovia não passará por Curitiba. O novo traçado prevê que a partir da Lapa o trem siga para Paranaguá, margeando a BR 277.
Com isso, a maioria dos trens de fardo que hoje passa por dentro da capital, cortando os bairros das regiões Sul e Leste, poderá deixar de trafegar, começando a solucionar um problema de décadas e atendendo a uma reivindicação antiga dos curitibanos.
Não será ainda a extinção completa dos apitos de trem em meio aos prédios da cidade, porque continuarão a circunvalar ainda os comboios que vêm de Rio Branco do Sul e Almirante Tamandaré, carregados com cimento com direcção à rodoferroviária, passando pelos bairros da região Setentrião. Estes deixarão de circunvalar por dentro da cidade unicamente depois da construção do perímetro ferroviário, obra que integra a prorrogação da Malha Sul, ainda sem data prevista.
“Curitiba tem que resolver o conflito entre a ferrovia e a cidade e a Novidade Ferroeste vai encetar a solucionar esse problema”, afirma Luiz Henrique Fagundes, coordenador do Ideia Estadual Ferroviário. Segundo ele, o trilho que hoje passa por Curitiba e deixará de ser usado para o transporte de fardo poderá servir para instalação de um Veículo Ligeiro sobre Trilhos (VLT), visto que esteio ao sistema de transporte urbano. A centenária ferrovia da Serra do Mar, por outro lado, poderá explorar mais intensamente seu potencial turístico, com viagens diárias de trens de passageiros, que hoje não são possíveis devido à disputa de espaço com a fardo pesada.
Dados do Programa Vernáculo de Segurança Ferroviária Prosefer revelam que Curitiba e Paranaguá encabeçam um ranking das piores cidades com conflitos urbanos envolvendo linhas férreas no Brasil. Curitiba está em primeiro lugar e Paranaguá em segundo. Além de resolver o problema na capital, os estudos da Novidade Ferroeste preveem também reduzir ao sumo a interferência ferroviária no perímetro urbano de Paranaguá, até chegar ao porto.
Novidade ferrovia significará mais rapidez na descida da Serra do Mar
A Novidade Ferroeste vai atestar mais eficiência e rapidez na descida da Serra do Mar. A ferrovia atual foi inaugurada em 1885, no período imperial. “Foi construída com a tecnologia que existia na estação. As curvas são muito fechadas e as rampas muito íngremes”, observa João Arthur Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Segundo o representante da Fiep, pela limitação da atual estrada, as composições têm que trafegar com velocidade muito baixa, murado de 15 quilômetros por hora. “Para percorrer a intervalo de 90 quilômetros de Curitiba a Paranaguá são necessárias seis horas”, afirma. “Com a novidade estrada esse tempo de descida pode ser reduzido pela metade”, prevê.
Além da
baixa velocidade, as composições têm que ser divididas na subida da serra. Uma
constituição que desce com 100 vagões, por exemplo, para subir tem que ser dividida
em duas de 50 vagões. Os outros 50 permanecem no recinto em Paranaguá para seguir
numa próxima viagem.
Outra vantagem da novidade estrada, segundo Mohr, é que será provável utilizar o vagão double stack, que permite transportar um contêiner sobre o outro, dobrando o volume de fardo repleto. “Atualmente, isso é inviável por conta dos túneis que o trem tem que terçar, que são muito baixos”, diz.
“Se já tivéssemos essa novidade ferrovia hoje, estaríamos transportando por ela 26 milhões de toneladas por ano, vindas da região Oeste do Paraná e do Mato Grosso do Sul. Estamos levando por essa ferrovia hoje unicamente murado de 12 milhões que vem do Setentrião e Noroeste do Paraná”, informa o coordenador do Ideia Estadual Ferroviário, Luiz Henrique Fagundes. “O que vem do Oeste segue basicamente por rodovia pela falta de uma linha férrea completa e eficiente”, observa.
Fagundes
lembra que o porto de Paranaguá está batendo recordes de movimentação e a
estrutura logística para levar a fardo até lá está chegando à saturação. “A
ferrovia é a única solução provável. Sem o modal ferroviário, a performance do
porto pode ser comprometida”, prevê. Ele observa que todos os outros portos
do Brasil estão tendo suas malhas ferroviárias construídas ou melhoradas.
Rumo avalia “com atenção” oportunidades de novo traçado
A malha ferroviária Sul no Paraná é operada pela Rumo Logística, que tem contrato de licença até 2027. A empresa informa que desde que assumiu a licença, em 2015, vem realizando melhorias. No trecho entre Curitiba e Paranaguá, a empresa investiu mais de R$ 120 milhões na correção de traçado feitos na Serra de Paranaguá. Segundo a concessionária, a capacidade anual de transporte já passou de 13 milhões para 30 milhões.
A empresa acrescenta que em
fevereiro de 2020 firmou parceria com a Ferroeste passando a utilizar suas
próprias locomotivas e vagões para percorrer o trecho entre Cascavel e
Guarapuava (antes operado unicamente pela Ferroeste), e de lá até o Porto de
Paranaguá. A operação integrada movimentou 1,38 milhão de toneladas de produtos
em 2020, com um propagação de 50% no volume de grãos em relação ao ano
anterior.
Em relação à licença da Novidade Ferroeste, a Rumo informa que “sempre avalia com toda a atenção as oportunidades que surgem em sua dimensão de atuação”.
A Novidade Ferroeste terá 1.285 quilômetros de extensão totalidade e o investimento estimado é de R$ 25 bilhões, recursos que virão totalmente do setor privado. Não se tem ainda o valor específico do trecho Curitiba-Paranaguá. “O dispêndio pode ser considerado supino, mas o dispêndio de não se fazer essa novidade ferrovia será ainda maior”, enfatiza Fagundes.
A previsão é que os estudos sejam concluídos até final desse ano, quando se chegará à proposta do traçado definitivo. A partir daí serão realizadas audiências públicas para referendar o traçado. A Novidade Ferroeste deve ir a leilão na Bolsa de Valores do Brasil, a B3, no primeiro semestre de 2022 para uma licença por 60 anos. A estrada deve encetar a ser construída no segundo semestre do mesmo ano, com previsão de desenlace em 2029. Atualmente, de toda a extensão, o único trecho pronto é o que liga Cascavel a Guarapuava.